Escorpião


“Você está bêbado”

“Você é linda”

Parece roteiro de filme, mas é um sábado à noite. À poucos quilômetros de distância um do outro, ambos estamos no sofá.

Você diz que está bêbado demais para se comportar, que falar comigo é perigoso. Mas é o primeiro a não cumprir o que prega, testando sua resistência sem antes estar certo de que tem estômago para isso.
Você pede para me ver, diz que sente falta do meu corpo e do meu sorriso, finjo acreditar na última afirmação enquanto controlo o frio que ameaça congelar meu estômago. Uma linha tênue separa o mais profundo desejo dos sentimentos mais indigestos. Misturei amor na taça do prazer e tenho pago um preço alto.
Este não é um terreno para ingênuos e amadores.

No segundo em que você está de joelhos, minha respiração afunda e me afogo em meus próprios pulmões. Não me lembro se algum dia já quis ser de qualquer outra pessoa que não de você. Perco a visão e mordo meu lábio. Certos devaneios são naturais e eróticos, mas com você tudo é elevado a milésima potência. Basta ler teu nome pro meu corpo se acender, minhas coxas se apertarem e ser preciso engolir em seco por desejar beijar seus lábios enquanto você acaricia meus seios. É provável que minha natureza sonhadora combine com a sua - nossa - tendência à masturbação.
Construo fantasiosas sobre você, deixo minha imaginação fértil ganhar singulares nuances. Do inferno ao paraíso, eu te lamberia sem me distrair por um segundo sequer.

Minhas palavras são veladas, apenas se insinuam. Nunca sei o que dizer quando você está nu me dizendo que sabe que precisa manter distância, mas é difícil quando se trata de mim. Preciso investir todo o meu controle para não ferver por dentro mais do que já tenho feito.

Você se toca, me pergunta o que quero fazer. Intensidade é seu forte assim como a paixão. Nossa sexualidade exagerada, mascarando a esperança de escaparmos dos nossos próprios sentimentos. Juntos, nos sentimos vivos, livres, selvagens. Seu Sol, minha Lua, ambos escorpião. É preciso atenção para não deixar vir à tona nossa tendência destrutiva. Você me quer, eu te quero mais, mesmo que não seja uma competição.

Minha mão desce lentamente, pupilas vidradas em você. Fogo líquido entre as pernas. Trago meus dedos aos lábios, sua língua se insinua para fora na intenção de toca-los. Você morde o lábio, é a vez de minha língua repetir o movimento da sua. Seus lábios, sua barba e todos os dentes inferiores desalinhados, não acho que já tenha visto algo mais sexual. Você é lindo e meu corpo sabe disso.

A entrega física é borbulhante, barulhenta. Nos falta equilíbrio em nossa forma de nos relacionar. Mas você foi um professor paciente, me ensinando como te entregar meu corpo da forma que você quer. 
Seria injusto dizer que sou a perdedora.

Mãos exploram, dedos penetram, movimentos se intensificam, lábios proferindo palavras quentes.
Implodindo tudo. Explodindo acúmulos.
Eu não saberia atingir o orgasmo sem você.

Vamos nos conhecer novamente pela primeira vez.





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