Legendas para sentimentos
Quando as luzes se apagavam no céu
noturno, o tempo era apenas uma mão cheia de histórias selecionadas ao redor da
mesa de jantar, contadas por um artista já no auge de sua fama. Quando a poeira
baixava, meu avô, instrumentalista dos dias que combinavam a vida contemporânea
com o clássico fio do relógio que parecia não girar na cidade de lugar nenhum,
foi encarregado de ser o meteorologista do amanhã.
Para aqueles que tentam ler por entrelinhas, ele
apenas era, o ato de contar estrelas e ficar um pouco louco pensando no dia
seguinte. Legendas para sentimentos nunca foram palavras, mas sim o calor
imediato que emanava de seu coração a cada vez que ele sorria para mim.
Parceria e honestidade que sugeriam amor no mais puro jeito de amar, muito além
do conceito de tempo, que seus braços ao meu redor confirmaram serem
sentimentos legítimos. Se eu
colocasse um parêntese sob esse título, seria Legendas para sentimentos (em
relação ao tempo).
Toda a minha jornada como pessoa…
Racionalmente, não sou imortal. Mas continuo acumulando sonhos como se fosse.
Lendo uma quantidade excessiva de livros de romance, estabelecendo padrões tão
elevados que ninguém consegue realmente alcançá-los.
Acho que todos nós estamos tentando dar sentido à
nossa história à medida que avançamos e muitas vezes a dividimos neste plano nada
linear. Achamos que o hoje está condensado em hoje. Mas quando diminuímos o
zoom, conseguimos nos corresponder com nosso mais íntimo ser. Esteja por perto
e verá. Há mais que pequenas palavras bobas no universo, que explode como
supernova todas as manhãs. Cresci
na beira do rio, onde construímos poesias e pedidos de desculpas sob o chão de
areia fina. De longe, observando os passos curtos de meu avô seguindo seu
caminho para o banho fresco no rio. Não importava qual a estação, aquelas águas
eram seu infinito poço da juventude.
Dias atrás, eu estava em ligação com minha irmã
e muito do que essa história tem sido é eu e ela refletindo sobre o éter de
nosso contexto compartilhado, nossas memórias de infância crescendo na fazenda
de meu avô. Tivemos uma conversa profunda, ela disse algo que realmente me fez
pensar. E sentir. Eu respondi tentando fazer meus sentimentos fazerem sentido.Há cinco anos nosso avô se foi, não revisitei sua
casa, não tenho memórias difíceis de sua partida, apenas aquele sorriso e olhos
brilhantes que pareciam saber mais que o próprio tempo.
Em minha cabeça ainda ouço sua voz amorosa,
dizendo, depois de pegar no colo pela primeira vez minha filha ainda bebê, “os
olhos dela são tão cheios de vida. É tão bonito de ver”.
Descompactar essas memórias, voltar no tempo e
revisitar cenas de nossas vidas, assim pudemos traduzir todas as legendas para
o que elas realmente querem dizer. É como um filme antigo que nunca nos
cansamos de assistir. Eu ouço os sons e o silêncio de nossas memórias.
As vezes eu quero mais, as vezes estou apenas contente de tê-las como as tenho.
É muito interessante ver-nos seguindo os nossos diferentes caminhos e como
escolhemos deixar nossas lembranças em um lugar secreto, mas que ao mesmo tempo
possamos compartilhar. Como primeira neta e então, mãe. Como meu avô me amou
como o pai que não tive naquela parte da infância, se transformou no que
considero minha favorita imagem. Fiz as pazes comigo mesma em algum lugar entre
minha ambição e limitação. Portanto, fiz o melhor que pude e nada mais.
Memórias, o deliberado ato de recordar.
Ou apenas fiquei mais velha esse ano.
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Que delícia de texto. Memórias são muito importantes em nosso dia a dia.
ResponderExcluirBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está em HIATUS DE INVERNO do dia 21 de agosto à 14 de setembro, mas comentarei nos blogs amigos nesse período. O JJ, portanto, está cheio de posts legais e interessantes. Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Uma parte importante de quem somos.
ExcluirOtima semana pra voce.