Monet needed his garden

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"It’s because now I feel the need for words—and what I’m writing is new to me because until now my true word has never been touched. The word is my fourth dimension."

Clarice Lispector, Água Viva


There are days when I catch myself thinking that if it weren’t for Robinson Crusoe, I might not be who I am today. Or maybe, without Shakespeare, the Brontë sisters, Álvares de Azevedo, Camões, and Clarice Lispector, what would be left of me as a reader and dreamer? Every book I've held has been like a piece of ground I’ve stepped on, a step beyond the familiar, a window to worlds I couldn’t reach because of financial limits.

I have this quirky habit of walking around with a book in my hand, reading as I go. "The girl who reads while walking," that’s what everyone calls me. To keep up the habit, I always have a book in my bag, even when I don’t have time to open it. It’s almost like a talisman, a kind of safety net, a promise that, at some point in the day, a story might sneak into a few minutes and steal a little piece of reality. But I can never read two books at once. It feels like I’d mix the stories up inside me, like trying to dream two dreams in the same night. Crazy. But I read with the same urgency as I breathe—sometimes because I need to escape myself, other times just for the joy of getting lost in the pages.

Fantasy, crime, romance. These three genres shape who I am inside. There’s something sublime about losing yourself in worlds where dragons soar over forgotten cities, or where a detective solves a mystery as the hours drift away in cigarette smoke, or where love is so intense it almost burns through the pages. Reality melts away, and suddenly vampires, Fae, and living shadows aren’t just in the books but in my mind too, like unexpected guests. They come in, settle down, and before I know it, they’re chatting with my inner voice, sharing secrets from parallel universes. And I stop living here and start living "there". Like in Bobby’s World.

The other day, I read about the weight of being a creator in these fast-paced, hyper-visible times. The metaphor of "Monet’s garden" stuck with me. You know, the idea that artists need their gardens, their quiet spaces, to create something real? I totally get that. Sometimes it feels like I’m trying to write a story while the world’s telling me to run a never-ending race of content. When did writing stop being a quiet refuge and turn into just another task to check off a list?

I remember when I started writing; it was like strolling through a wide-open field, no rush. Words would come, sometimes stumble, but they were free, like butterflies looking for a place to land. I’d sit by candlelight at my grandmother’s kitchen table, writing stories, gothic tales, and poetry until almost dawn. I’d write and then tuck it away, filling pages with the ease of someone writing a grocery list. Now, with life always demanding something, writing sometimes feels like something else—a duty disguised as art. Like time is pushing me to produce, to share, to be seen. But... Monet didn’t have a schedule. He had his garden.

At its core, writing is just that: returning to the garden. A place where ideas can grow at their own pace, where the sun and shade each have their turn, where the seasons of the mind shift without the pressure to show results. Writing, like reading, should be a cyclical, organic process. Maybe that’s what we’re missing today—a moment to breathe, to reflect, before throwing everything into the "crowded gallery" of the internet.

So, maybe the lesson is this: to give myself time to breathe between the lines, to pause before hitting “send.” Maybe even to carry a book in my bag and not open it, but just know it’s there. A reminder that literature, writing, and life are all ongoing processes. 
Not everything needs to be instant. Sometimes the garden isn’t for planting, but for walking barefoot, feeling the solid ground beneath you. What’s worth it takes time to bloom. 




Há dias em que me pego pensando que, se não fosse por Robinson Crusoe, talvez eu não existisse do jeito que sou hoje. Ou, quem sabe, não fossem Shakespeare, as irmãs Brontë, Álvares de Azevedo, Camões e Clarice, o que restaria de mim como leitora e sonhadora? Cada livro que segurei nas mãos foi como um pedacinho da terra que fui pisando, um passo além do conhecido, uma janela para mundos que me escapavam pela falta de oportunidade financeira.

Tenho um hábito curioso de andar por aí com um livro na mão, lendo e caminhando. “A menina que lê andando”, assim que todos me chamam. Pra não perder o hábito, tenho sempre um livro na bolsa, mesmo quando não tenho tempo de abri-lo. Parece quase um talismã, um objeto de transição, uma promessa de que, em algum canto do dia, uma história pode se infiltrar nos minutos e roubar um pouquinho da realidade. Mas nunca consigo ler dois livros ao mesmo tempo. Parece que misturaria as histórias dentro de mim, como quem tenta sonhar dois sonhos na mesma noite. Insano. Mas leio com o mesmo ímpeto que respiro, às vezes por necessidade de sair de mim, outras por puro prazer de me perder nas páginas.

Fantasia, crime, romance. Três vértices que me desenham por dentro. Tem algo de sublime em perder-se em mundos onde dragões sobrevoam cidades esquecidas, ou onde um detetive resolve um mistério enquanto as horas se desfazem em fumaça de cigarro, ou ainda, onde o amor parece tão intenso que as palavras quase queimam as páginas. O real se desmancha, e de repente, os vampiros, os Fae, as sombras vivas habitam não só os livros, mas também minha mente, como visitas inesperadas. Eles entram, se acomodam e, antes que eu perceba, estão conversando com a minha própria voz interior, me contando segredos de universos paralelos. E eu deixo de viver aqui, para viver lá. Como em o Fantástico mundo de Bobby.

Outro dia, li sobre o peso de ser criador em tempos de velocidade e visibilidade. A metáfora do "jardim de Monet" ficou ressoando em mim. Sabe, a ideia de que artistas precisam de seus jardins, seus refúgios, para criar algo de verdadeiro? Eu entendo bem isso. Às vezes, parece que estou tentando escrever uma história enquanto o mundo me pede para correr uma maratona de conteúdos sem fim. Quando foi que escrever deixou de ser um refúgio silencioso e passou a ser uma tarefa a ser riscada na lista?

Lembro que, quando comecei a escrever, era como caminhar por um campo vasto, sem pressa. As palavras surgiam, às vezes tropeçavam, mas eram livres, como borboletas buscando onde pousar. Me sentava a luz de velas na mesa da cozinha de minha avó, e escrevia crônicas, contos góticos e poesia até quase o dia amanhecer. Escrevia e guardava, preenchia as folhas com a clareza de quem preenche a lista de supermercado. Agora, com a vida exigindo urgências, a escrita por vezes se veste de outra coisa — uma obrigação disfarçada de arte. Como se o tempo me empurrasse, pedindo para que eu produzisse, compartilhasse, fosse vista. Mas... Monet não tinha um cronograma. Ele tinha seu jardim.

No fundo, escrever é isso: voltar para o jardim. Um lugar onde as ideias podem crescer sem pressa, onde o sol e a sombra têm seu tempo, onde as estações da mente se alternam sem a urgência de mostrar resultados. A escrita, assim como a leitura, deve ser um processo cíclico, orgânico. E talvez seja isso que nos falte hoje — um respiro, um tempo para contemplar antes de despejar tudo na "galeria lotada" da internet.

Então, talvez a lição seja essa: dar-me o tempo de respirar entre as linhas, de pausar antes de apertar o "enviar". De, quem sabe, carregar um livro na bolsa e não abri-lo, mas só saber que ele está ali. Um lembrete de que a literatura, a escrita, a vida... são processos. 
Nem tudo precisa ser instantâneo. Às vezes, o jardim não é para o cultivo, mas para andar de pés descalços e sentir o solo firme. O que vale a pena demora a florescer. 





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