Above the Clouds of Pompeii

 

Kaspars Eglitis - Unsplash



There’s a woman who lives in the building across from mine, on the third floor. Her windows are almost always open, and it’s like little pieces of her life drift out, which I just sort of… collect. I don’t know her name or anything about her past. I don’t know if she’s into Chinese food, rom-coms, or if she sleeps with socks on in winter. I have no idea if she’s ever seen the volcano above Pompeii. But I do know she lives alone.

Every Friday and Saturday night, like clockwork, I see her leave her apartment, always looking polished, as if the world outside is just waiting for her. She takes her time, walking slowly but with purpose, and then disappears down the street. I don’t know where she goes, but in my head, I’ve decided it’s a little hidden salsa club. It has to be salsa because that lively, energetic rhythm matches the kind of energy she gives off.

I can picture her feet, worn from the years, gliding effortlessly across a dance floor, just flowing with the music. The rhythm seems to live in her bones. Her body — which has probably seen its fair share of falls and challenges — moves like she’s in her twenties again. I imagine her shoulders moving with the beat: one, two, three, a spin, another spin; her hips swaying, her hands steady, like someone who’s been through a lot but still finds joy in the unexpected. When she dances, it’s as if nothing else matters — and maybe, in those moments, nothing does.

When she’s not out dancing, I think she paints. Sometimes by candlelight. I imagine her hands — probably delicate but still strong — holding a brush with the kind of ease that comes from years of creating. I can almost feel the slight tremble as the brush meets the canvas. The paint spreads softly, like a quiet dance of its own. I don’t know what she paints, but in my mind, it’s always something warm. Maybe landscapes, or the facade of a pub she visited in Dublin, or portraits of people she’s loved and lost. Whatever it is, the colors are always rich and warm — reds and oranges, as if she’s trying to hold on to the sunset just a little longer.

Some days, I see her reading. She’ll be sitting near the window, a book in her lap, with her cat, a lazy Siamese, curled up around her legs. I wonder if that cat is her most constant companion. He’s probably one of those cats who just gets it, knowing when to snuggle up and when to give her space. His soft fur sliding through her fingers seems like the perfect antidote to any loneliness. I can’t help but think the cat must know that he’s the only one witnessing her daily life. They’ve got this unspoken understanding, sharing their lives without needing words. One day, I’m sure I’ll miss her just as much as that cat will.

I’ve imagined what her apartment looks like a million times. I can’t see inside, but in my mind, it’s full of little, carefully chosen details, with each thing telling a part of her story. There’s probably an old, comfy sofa, maybe a vase of nearly wilted flowers on the table because she always forgets to put fresh water in them. The bed is likely unmade, keeping the warmth from the night before. The walls, I’m convinced, are covered with pictures — maybe not all ones she’s painted herself, but definitely art she’s collected over the years. I bet she has framed posters from museums she’s visited, maybe vintage frames she found in a nearby antique shop. And photos. Black-and-white ones of moments that might not mean anything to anyone else but mean the world to her. Faces of people who are long gone but still linger in her home. And then, there are the photos she doesn’t hang up — those stay tucked away in drawers or wooden boxes, a bit too personal to display. Maybe they’re of her parents, an old friend, a lost love, or memories of a time she still dreams about.

Even with all the quiet, even with the apparent solitude, she’s living. She’s living in a way I sometimes forget to. She dances, she paints, she reads, and she pets her cat. Her life seems like this intimate, self-contained cycle, where time isn’t an enemy but a companion. Growing older, for her, isn’t the end of something; it’s just another way to experience the world. Being alone doesn’t mean she’s empty. Maybe she’s even fallen in love again — on the dance floor, with a new painting, with herself. Maybe every Friday, when she puts on her coat and steps out, she’s convinced the night has something good in store for her. Her body still moves, her heart still beats, and her spirit — well, that remains completely free. But I guess I’m still too young to really get it.




Tem uma mulher que mora no prédio em frente ao meu, no terceiro andar. As janelas dela estão quase sempre abertas, e parece que pequenos pedaços de sua vida escapam, e eu acabo colecionando-os. Não sei o nome dela, nem nada de seu passado. Não sei se ela gosta de comida chinesa, de comédias românticas, ou se dorme de meia no inverno. Não faço ideia se já viu o vulcão por cima das nuvens de Pompeia. Mas eu sei que mora sozinha.

Toda sexta e sábado à noite, sempre a vejo saindo, bem arrumada, como se o mundo lá fora estivesse à sua espera. Ela vai devagar, mas com firmeza, descendo as escadas e sumindo pela rua. Fico pensando para onde ela vai. Não dá para ver, mas, na minha cabeça, sempre é o mesmo destino: um salão de dança pequeno e escondido, onde ela dança salsa. Decidi que é salsa porque aquele ritmo animado, cheio de energia, combina com a vibe que ela passa.

Consigo imaginar os pés dela, já acostumados com o peso dos anos, deslizando sem esforço pelo chão da pista, só se entregando à música. O ritmo parece viver em seus ossos. O corpo dela — que já deve ter passado por várias quedas e desafios — se movimenta como se ela tivesse vinte anos de novo. Imagino os ombros dela seguindo o compasso: um, dois, três, uma volta, outra volta; o balanço das ancas, a firmeza das mãos de alguém que já viu de tudo, mas ainda se deixa surpreender. Ela dança como se fosse o único momento que importa — e talvez seja mesmo.

Quando não está dançando, acho que ela pinta. Às vezes, à luz de velas. Imagino as mãos dela — provavelmente delicadas, mas ainda firmes — segurando o pincel com a intimidade de quem já tem anos de prática. Consigo quase sentir o leve tremor no momento em que o pincel encontra a tela. A tinta se espalha suave, como uma dança silenciosa. O que será que ela pinta? Paisagens, talvez? A fachada de algum pub em Dublin. Ou quem sabe retratos de pessoas que ela amou e perdeu, mas que ainda vivem na memória dela. Não sei, mas na minha cabeça são sempre cores quentes. Vermelhos e laranjas, como se ela estivesse sempre tentando prolongar o pôr do sol.

Às vezes, vejo ela lendo. Nesses dias, ela senta perto da janela, com um livro no colo, e o gato dela, um siamês preguiçoso, enrolado em suas pernas. Fico pensando se o gato é a companhia mais constante que ela tem. Ele deve ser um daqueles gatos que entende tudo, que sabe quando se aproximar e quando deixar ela sozinha com os pensamentos. O pelo macio dele, passando pelos dedos dela, é quase como um antídoto contra a solidão. Fico imaginando o que o gato sente nessa casa. Provavelmente ele sabe que é a única testemunha de todos os momentos diários dela. Eles pertencem um ao outro, sem precisar dizer nada, porque de alguma forma o gato parece entender que existem mais histórias dentro dela do que ele jamais vai conseguir desvendar em sete vidas. Eles coexistem num pacto silencioso de cuidado mútuo. E percebo que um dia vou sentir falta dela tanto quanto o gato vai.

Já imaginei várias vezes como é a casa dela. Não dá para ver a decoração, claro, mas, na minha cabeça, tudo é cheio de detalhes que ela escolheu com cuidado, cada coisa contando um pedacinho da história dela. Provavelmente tem um sofá antigo, já bem usado, mas ainda confortável. Talvez um vaso com flores quase murchas em cima da mesa de jantar, porque ela sempre esquece de trocar a água. A cama, provavelmente, está desfeita, para manter o calor do corpo nos lençóis. Tenho certeza de que as paredes estão cobertas de quadros — talvez não os que ela mesma pintou, mas outros que ela foi colecionando ao longo da vida. Pôsteres de pinturas famosas que ela comprou em museus, molduras antigas que ela achou num antiquário ali perto. E fotos também. Fotos em preto e branco penduradas, de momentos que talvez não importem para mais ninguém, mas que ela não conseguiu esquecer. Rostos de pessoas que já se foram, mas que, de alguma forma, ainda estão presentes naquela casa, como testemunhas invisíveis. E aí tem as fotos que não estão à vista. Essas, ela guarda nas gavetas, em álbuns ou caixinhas de madeira. São as mais íntimas, as que doem um pouco mais de olhar. Talvez um retrato dos pais, uma amizade perdida, um amor antigo, ou imagens de um tempo que ela ainda revisita nos sonhos.

Apesar de todo o silêncio, apesar da aparente solidão, ela vive. Vive de um jeito que eu, às vezes, esqueço de viver. Ela dança, pinta, lê, faz carinho no gato. A vida dela parece um ciclo íntimo, só dela, onde o tempo não é inimigo, mas um aliado. Envelhecer, para ela, não é um fim, mas um estado de continuidade, um outro jeito de experimentar o mundo. E estar sozinha não é o mesmo que estar vazia. Talvez ela até tenha se apaixonado de novo, na pista de dança ou em uma nova pincelada. Quem sabe ela se apaixona por si mesma toda sexta-feira, enquanto veste o casaco e sai, certa de que a noite ainda guarda algo bom, porque o corpo ainda se move, o coração ainda bate, e o espírito — ah, esse — continua livre. Mas acho que ainda sou jovem demais para entender.



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