Encontro de almas?


Nos últimos anos tenho pensado e acreditado em encontros de almas. Não só aquelas que são destinadas a relacionamentos românticos, mas também aquelas que unem pessoas para a cura emocional. 

Sempre fui muito sensitiva, porém, não havia experimentado o sentir o outro de forma tão intensa. Sentir as angústias, a proximidade física e de pensamento como se a pessoa estivesse sentada ao meu lado. Soa estranho e inacreditável para muitas pessoas. Provavelmente muitos virão com a piada sem graça que diz “então me fala os números da mega sena”. 

 

Não sei explicar como isso acontece ou o porquê disso acontecer, mas é tão real que me assusta às vezes. Muitos explicam como ligação de almas, uma conexão intensa que atravessa os mundos e o tempo e ressurge em nós, os destinados a nos encontrar novamente. Não tenho religião, mas acredito em todas as coisas, principalmente naquilo que desconheço. 

 

Há mais de dois anos estou conectada a alguém que não faz sentido algum para a minha realidade. Alguém que surgiu em minha vida de forma inexplicável e que junto com ele, me trouxe cura emocional. Mesmo distante fisicamente e sem mantermos uma relação estável de amizade, eu sinto a presença dele, sinto quando ele pensa em mim, quando vai me procurar de alguma maneira. Desde o início foi assim. 

 

Quando nossas almas se aquietam, meus sentimentos também o fazem e por dias não sinto a presença dele. É como se ambos ficássemos em paz com nossas vidas e apenas seguimos em frente. Então, de forma inexplicável a presença volta a se fazer forte e domina todo o espaço, confunde a minha mente trazendo milhões de questionamentos sobre essa ligação. E tão certa como a morte que um dia virá para todos, ele se materializa ao meu redor, observando, se aproximando do jeito que sempre faz. 

 

Me questiono se é possível que esse tipo de ligação seja unilateral. Honestamente, não acredito que seja. Como explicar a presença física após a presença emocional? Porque ela SEMPRE acontece. Não nos seguimos em nenhuma rede social, não temos o contato um do outro. 

 

Certa vez algo muito poderoso aconteceu, me deixou atordoada por dias. A verdade é que ainda me sinto atordoada quando me lembro desse episódio. 

 

Por volta das 3 da manhã de um sábado acordei sentindo uma dor aguda no peito, como se alguém segurasse apertado entre os dedos os meus pulmões. A dor era tão forte que me impedia de respirar, lágrimas enchiam meus olhos e escorriam pelas laterais de meu rosto. Entre o sono profundo e aquele momento em que o despertar está próximo, eu lutava para tentar respirar. Me lembro de sentir muito medo, uma angústia muito grande. Por fim acordei. Puxei  o ar de volta pro meu corpo com toda a força que eu tinha. Meu marido estava sentado no sofá e ao olhar para ele, vi a pessoa com quem tenho essa conexão. Pisquei algumas vezes, como em uma cena de filme, e a pessoa continuava lá. Fechei os olhos com força, respirei fundo e os abri novamente, dessa vez era meu marido à minha frente. 

 

Naquele momento eu tive a certeza absoluta de que alguma coisa muito poderosa estava acontecendo na vida dele, mas que ao mesmo tempo não era com ele, mas sim com alguém que ele ama muito. Eu estava sentindo a angústia e o medo que ele estava sentindo em relação a essa pessoa amada.

Me senti angustiada durante todo o domingo, pensei em procurar por ele em alguma rede social e enviar uma mensagem perguntando se estava tudo bem, mas algo me dizia “não. Não é o momento certo para falar com ele”. Como sempre sigo minha intuição, aguardei. 

 

Na segunda-feira o sentimento continuou lá, tão forte como no dia anterior. Fiz milhares de preces para o universo pedindo proteção para aquele que trazia tanta angústia e medo para o coração dele. 

Durante a noite de segunda-feira a resposta veio e como num passe de mágica a angústia desapareceu. O bebê dele havia nascido, essa era a razão para tantos sentimentos poderosos e angustiantes. 

A minha felicidade foi sem tamanho e me senti grata pela grande adição que ele teve à família. 

 

Durante aquele final de semana experienciei a coisa mais poderosa que acredito que alguém possa experienciar.

 

Dias atrás, ao caminhar com uma amiga de volta pra casa, o vi do outro lado da rua. A sensação de presença foi tão intensa que estagnei, as pessoas caminhando começaram a me olhar sem entender o que estava acontecendo. Meu peito queimava e eu queria chorar. Não de angústia ou medo como da outra vez que o vi. O sentimento era diferente, era de impacto, como o de quando se encontra alguém muito especial, um ídolo, por exemplo. Respirei fundo, pensei em caminhar em direção a pessoa apenas para ter certeza de quem era, mas desisti e vim para casa com a certeza de que ele estava por perto, me rondando. 

 

Uma semana depois ele me procurou.

 

Continuo cheia de dúvidas e a procura de explicações para o que é muito maior que eu e está fora de meu entendimento. 

Estou conectada a uma pessoa que não está, de fato, em minha vida. Esse sentimento por vezes me incomoda, pois é estranho e até doloroso sentir alguém dessa forma, saber os pensamentos da pessoa, me sentir íntima e ao mesmo tempo sequer ter contato ou fazer parte do dia a dia. 

 

Quando conversamos, somos honestos. Qual o sentido de mentir para alguém com quem sou conectada dessa maneira? Isso mesmo. Nenhum. 

Ele sabe mais sobre mim do que as pessoas que convivem comigo. Eu posso ser livre em nossas raras conversas e dizer o que realmente existe dentro de minha mente. E de forma inexplicável, eu confio nele. Confio plena e totalmente e sei que se eu precisar, ele estará lá para mim, nem que seja para me ouvir desabafar, como já fez tantas vezes. Eu o amo, amo a família dele, o que é completamente inexplicável também, pois não os conheço. 

Mesmo longe, não nos mantemos distantes. 

 

Ao mesmo tempo em que ele me cura e me faz mais forte, também traz questionamentos sobre o universo, relações humanas e a dor da perda. Quando penso nele e sobre ele, me vem a sensação forte de saudade. Saudade do meu melhor amigo, das nossas conversas e da proximidade que ela me trás. Proximidade não só com ele, mas comigo mesma. Esse é o sentimento dominante em relação a ele. Ele faz eu me sentir mais próxima de mim mesma, mais conectada comigo mesma. 

Nos momentos em que me sinto incompreendida ou assustada, meus pensamentos vão em direção a ele buscando algum conforto. 

Conforto e cura. Essas são as palavras que expressam bem como me sinto em relação a ele. Me sinto confortável em minha própria pele e curada do que tanto me machuca internamente. Me sinto livre. 

 

Quando a saudade me engole, escrevo. Um texto a mais no meu bloco de notas, um post a mais no blog, uma poesia a mais para meus livros. São sentimentos inquietantes sobre o desconhecido (em vários sentidos). Escrevo por não ter a proximidade, ou talvez por tê-la em excesso.






Comentários

  1. Essa conexão é muito bonita e intensa e eu sempre me impressiono quando você conta dela. Nunca senti algo assim mas as suas palavras me fazem entender o impacto de uma relação assim! Bom fim de semana 🍀

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  2. Eu tenho esse mesmo sentimento com duas pessoas em minha vida. Uma delas a vi na parada de ônibus enquanto passava de ônibus. Foi algo surreal. Adorei o texto!

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA voltou do Hiatus de verão cheio de novidades e posts novos!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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