O Monstro Embaixo da Cama
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Foto: Luiza Rower |
Saí da cama essa manhã precisando abraçar meu corpo. Ele tem necessitado desesperadamente de toques e sensações. A única maneira de acalmar essa voz que não costuma dormir.
Acendi as luzes, me vesti para mais um dia de céu claro e neve no chão. Caminhei pelas ruas ainda escuras, dez graus negativos, o termostato indicava.
Movo meu corpo, o movo novamente, mais uma vez e mais uma vez. Existe prazer no esforço, na dor, mergulho nele. Decido que é suficiente, o suor começa a sair de meus poros, a sensação é confortável.
O chuveiro aquece meu corpo, por alguns segundos também a alma. A água faz seu caminho rastejante em minha pele molhada, beijando todos os lugares que tenho desejado dolorosamente serem tocados.
Penso em você e em outra pessoa, também naquela garota alemã que faz meu sangue ferver.
O sorriso dela… o sorriso dela incendeia tudo ao redor, derrete meus ossos. Não sei se suportaria vê-la nua, sorrindo o meu sorriso no dela, entrelaçando nossos dedos em cabelos selvagens. Mas eu pagaria o preço.
Ela sorri e eu posso ouvir o timbre da voz dela, mesmo que nunca tenhamos dito em voz alta palavra sequer. Eu sequer sei o nome dela! Mas minha imaginação já conhece o cheiro do travesseiro em que ela sonha todas as noites. Ela diz que me quer, isso me faz querê-la ainda mais.
Maldito ego! Mas aquele sorriso…
Bissexualidade, é assim que eles chamam. Mas é apenas a natureza fazendo seu caminho. Somos feitos para nos atrairmos uns pelos outros e eu me atraio por ela, sem culpa, sem medo. Não estou confusa ou precisando de atenção. Nasci assim, ninguém me ensinou. É o meu ser que nasceu para ser teu, dela ou dele, de quantos eu quiser.
O sorriso dela me lembra a tua risada. Quando você ri meu coração se aquece, minhas células vibram com a sensação de conforto e desejo profundo. Com você é diferente, acho que sempre vai ser.
Suas cicatrizes. Por Deus! Eu quero lambê-las! Cada uma delas. E então engolir a tua risada enquanto nossos lábios se tocam.
Te querer se tornou patológico. Já desisti de tentar deixar pra lá. A gente se entende e desentende, some e aparece, tenta esquecer, mas está sempre aqui.
Acordei precisando do teu corpo para satisfazer o meu e ficar em paz.
Quando mente e carne seguem o mesmo caminho no desejo, o prazer é doloroso, ele se alimenta da mesma fonte e, no momento, a sua está seca. Sigo sedenta.
Existo com a certeza de que nasci para ser livre nas relações, sou minha e de quem eu quiser, a falta de controle é culpa das minhas compulsões.
Hipersexualidade, é o nome que eles deram ao demônio que vive embaixo da minha cama. Nunca vi coisa mais difícil de lidar. A inquietude no meu ser é sufocante. Difícil explicar e entender. Tenho aprendido a lidar com a culpa que vem através das minhas ações e me acolher sem julgamentos.
Amo com a calma do céu azul num dia de verão. Amor deveria ser o suficiente para afastar esse demônio, porém, sei que não. Então estou aqui, esperando você se decidir. Ou ela me dizer que sim. Ou ele me pedir. Mesmo que pareça patético e sem coração.
É exaustivo. Acredite.
Te quero com o desespero costumeiro, que me faria atravessar oceanos só para te tocar por poucos minutos. Entretanto, o quero quase tanto quanto quero você. Isso me assusta, às vezes. A paixão é terreno perigoso quando existe conexão.
As mãos dele são lindas, eu perderia muitas noites de sono apenas o observando move-las, criando arte. Ele me observa e se lembra do vestido branco que eu usava num dia quente no último verão. Saber disso fez o meu estômago queimar em paixão. Acho que todas as borboletas não sobreviveram àquele incêndio. Pobres coitadas! Derreteram junto comigo. Mas meus dedos deslizando debaixo do cobertor criavam vida.
Ele não é como você. Ele não me dá ordens ou pede qualquer coisa. Ele não é desesperado ou manipulador. Ele apenas está lá, isso é excitante também. Mas confesso que nada queima mais que meu corpo quando você pede para me ver. Selvagem e viva, é assim que sou com você.
Sorrisos e risadas me excitam. Cicatrizes e mãos são meu ponto fraco. Estou na beira do abismo, caindo por quatro.
Ela, você, ele, o amor.
E o mostro embaixo da cama?
As coisas não estão ficando mais fáceis.
Parece super dramático.
Talvez seja.
Seus textos me transbordam pra um mundo totalmente diferente. Eu amo a sua intensidade.
ResponderExcluirBelo texto! Poético, até.
ResponderExcluirBoa semana!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia
Eu não me identifico com o texto (só, talvez, nos dias pré-mentruais), sou o contrário, sou bem pouco sexual (mas a escrita me deixa um pouco sexual, aquela energia sexual que pode ser utilizada pra criar também). Mas você escreve tão bem que é possível sentir na pele tudo o que você narra. Maravilhoso!
ResponderExcluirMulher, tu arrasa!
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